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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Enquadramento


Enquadramento Curricular


A nossa actividade foi dirigida a crianças de dois anos, como tal decidimos enveredar por duas áreas de conteúdo que estimulassem e fossem do seu interesse. Sabemos que é fundamental desenvolver a área de expressão e de comunicação nesta fase, pois é neste momento que as crianças adquirem as bases essenciais para conseguirem se exprimir e comunicar cada vez melhor. A expressão musical foi o domínio escolhido para desenvolver estas competências, até porque a música, nesta idade, revela-se aliciante e desperta grande curiosidade. Através da música a criança descobre outras formas de estar, de agir, de ver o mundo à sua volta, tornando-se mais activa, espontânea e sensibilizada para as artes. Associado a este domínio incluímos a expressão motora, pois os dois, aliados, complementam-se e permitem um desenvolvimento harmonioso e mais completo.

Por outro lado, o domínio da linguagem oral torna-se um factor imprescindível nesta fase em que as crianças estão a adquirir as noções básicas a nível linguístico, e por esse facto é necessário fortalecer este tipo de expressão.

É fulcral que haja um trabalho recíproco e paralelo entre a escola e a família, que irá favorecer o enriquecimento global da criança, para que este se tornasse real elaborámos um folheto informativo que aproximasse os pais da actividade que iria ser realizada.


Enquadramento Teórico


- Teorias do Desenvolvimento segundo vários autores (dos 2 aos 3 anos)

Segundo a Evolução Psicossexual de Freud, as crianças da Sala Verde encontram-se na Fase Anal (dos 2 aos 3 anos). Como características principais desta fase temos: o amadurecimento do tronco, tornando-se o bebé sensível na região anal (zona erógena), é uma etapa importante no desenvolvimento afectivo, a defecção simboliza uma recompensa, atenção e afecto por parte do adulto, com a retenção dos esfíncteres a criança manifesta agressividade e desentendimento, começa a procurar pessoas tendo em conta a sexualidade, o controlo dos esfíncteres serve de modelo ao impulso da agressividade.

Inicialmente a criança tem curiosidade em descobrir as partes do seu corpo, mostrando-as aos outros e também procura descobrir as partes sexuais dos outros, numa outra fase, a criança dá-se para o amor do objecto, nesse momento dá-se a retenção das fezes.

No Desenvolvimento afectivo/emocional de Erikson, as crianças encontram-se na fase da Autonomia Vs Vergonha. Neste momento a criança desenvolve a auto-confiança, em caso de punição ela sentir-se-á com vergonha e dúvida, também demonstra a afirmação da vontade, o sentimento de autonomia e de amor-próprio, levando ao desenvolvimento da boa-vontade e de outras competências. De igual modo, podem desenvolver sentimentos de perda de auto-domínio exterior.

Começam a querer vestir-se, calçar-se e comer sozinhos.

Na perspectiva de Piaget, tendo em conta os Estádios de Desenvolvimento, as crianças estão no Período Pré-Operatório (dos dois aos sete anos). Neste período, a criança apresenta uma inteligência representativa e simbólica, aparecem os jogos por imitação e a lateralidade, é a idade do objecto transitório. A criança actua por tentativa e erro, intuição e por experiência, é capaz de manipular objectos e de aplicar nomes a estes, ela desenvolve a capacidade simbólica.

Este período é caracterizado pelo egocentrismo, em que a criança ainda não é capaz de se colocar no lugar do outro, pelo desequilíbrio e pela irreversibilidade, sendo incapaz de compreender fenómenos reversíveis.

Tendo em conta a Perspectiva do Desenvolvimento de Bruner, a criança nesta fase desenvolve o método da descoberta, apresenta o nível de representação do mundo Icónico (dois anos), no qual a criança já consegue representar mentalmente objectos.

Segundo a Teoria de Henri Wallon, a criança até aos três anos encontra-se no Estádio do Desenvolvimento Sensório-motor e projectivo. Nesta etapa a criança adquire o movimento de marcha e a preensão, ela tem maior autonomia na manipulação dos objectos e na exploração dos espaços, desenvolve a função simbólica e a linguagem. O termo projectivo tem a ver com o facto da acção do pensamento necessitar de gestos para se tornar perceptível.


- Importância da estimulação da criança para a música


A música deve acompanhar a criança desde o momento em que nasce (Gordon, 2000), por este facto, e tendo as crianças da sala verde apenas 2 anos, decidimos centralizar a nossa actividade no domínio da música.

A nossa actividade teve início com a apresentação da melodia da canção que iriam aprender (com o violino). Decidimos dar a conhecer primeiro a melodia da canção, pois, tendo como base os princípios defendidos pelo investigador Edwin Gordon, “ […] a maioria das canções deve ser cantada sem palavras, porque as crianças, em média, tendem a escutar mais o texto do que o canto e, em resultado disso, irão prestar mais atenção ao significado das palavras do que à tonalidade ou à métrica da canção” (Gordon, 2000, p. 33 ). Este pedagogo musical faz frequentemente um paralelismo entre a aprendizagem da fala e da música. Da mesma forma que, desde que nasce, se motiva a criança para a linguagem, também se deverá estimular para compreender e interiorizar a música. “A música não é uma aptidão especial concedida a um pequeno número de eleitos; todo o ser humano tem algum potencial para entender a música” (Gordon, 2005, p.50 ).

Posteriormente ao contacto e interiorização da canção, proporcionamos alguns momentos de movimento livre, tendo como orientação desse movimento uma variedade de música (rápida, lenta, alegre ou triste). “O movimento desenvolve a coordenação física, que é essencial para o movimento continuado e fluido que as prepara para o desenvolvimento rítmico” (Gordon, 2000, p. 60). Segundo este autor, a criança responde ao ritmo através do movimento, sendo o corpo o elemento responsável por fornecer ao cérebro informações para serem processadas. “O corpo compreende coisas que o cérebro não compreende […], e, portanto, é o corpo que, em última análise, fornece ao cérebro a compreensão] ” (Gordon, 2000, p. 52).

No final da actividade, decidimos dar às crianças a oportunidade de explorar instrumentos de percussão feitos com matérias recicláveis. O objectivo foi “[…] permitir que a criança fizesse experiências sonoras com as qualidades do som, como o timbre e a intensidade […]. A criança que consegue desenvolver pouco a pouco a apreciação sensorial, aprende a gostar ou não de determinados sons e passa a reproduzi-los e a criar novos desenvolvendo sua imaginação.” (Ducorneau, citado por Ongaro & Silva, 2006, p. 21).



- Importância da linguagem nesta faixa etária e a relação entre a escola e a família.


O objectivo central do Plano Nacional de Leitura (PNL) é aumentar os níveis de literacia do nosso país, como tal, torna-se necessário estimular todos os indivíduos, principalmente os mais novos, para que estes alcancem níveis essenciais de leitura e sejam capazes de ter uma melhor percepção da palavra escrita e interpretar os mais diversos tipos de informação.

O Complexo Social e Escolar DonaOlga de Brito propôs-se a desenvolver o projecto de leitura em vai e vem, incluído no Plano Nacional de Leitura, o que permite uma movimentação dos livros, fomentando uma interacção entre a família e a instituição, com ganhos para as crianças no desenvolvimento de competências na literacia e promovendo o estímulo da leitura autónoma.

Com base no Plano Nacional de Leitura cabe ao educador criar condições de modo a sensibilizar as famílias para a importância do livro, para novas aprendizagens e para o desenvolvimento ao nível cognitivo e afectivo das crianças. Podem usar como estratégia as reuniões de pais, distribuindo listas de livros com autores recomendados e adequados à idade e interesses das crianças e dialogando sobre os benefícios que o contacto das crianças com os livros pode proporcionar.

Actualmente a leitura assume um papel de relevo na nossa sociedade, não só pela sua importância nas diferentes formas de comunicação, como pela sua utilidade na formação intelectual e cultural da criança. Torna-se fundamental criar hábitos de leitura que estimulem a imaginação, a sensibilidade e o poder reflexivo da criança, pois segundo Bastos (1999), a leitura possibilita um crescimento da autonomia, da liberdade pessoal, uma maior capacidade de exercer a cidadania e de viver em sociedade.

Os pais, os professores, os educadores, as bibliotecas, as livrarias… são mediadores que estabelecem uma aproximação entre a criança e o livro, criando hábitos de leitura e contribuindo para a complexidade de aprendizagens e de atitudes significativas.

“ […] A leitura começa muito antes de se saber ler e, neste sentido, os livros devem fazer parte do dia-a-dia da criança desde muito cedo.” (Bastos, 1999, p. 285), sendo, os pais os primeiros elos de ligação entre a criança e os livros.

“ A escola é um dos locais privilegiados onde o encontro da criança com o livro se pode concretizar de forma estimulante. E a escola deve ter como objectivo criar leitores activos […]” (Bastos, 1999, p. 286). Para que tal aconteça devem ser criadas condições para que a leitura seja implementada, pois nem todas as crianças têm o mesmo ritmo de aprendizagem, nem sempre lhes apetece ouvir histórias ou estar em contacto com os livros.


Em parceria com os pais/familiares, a escola deve organizar a leitura, abordando um vasto leque de temas, tendo em conta o quotidiano das crianças, o meio onde vivem, as relações socioculturais, o contacto com diferentes escritores, assuntos, estilos, ilustrações, etc. O professor também deve ter em consideração que os livros devem ser motivadores e produtivos propiciando uma formação para as crianças e um desenvolvimento harmonioso.
É extremamente importante possibilitar o contacto das crianças com diferentes escritores, assuntos, estilos, ilustrações, etc., e se for necessário, voltar a ler a mesma história, pois “ […] quem aprende a ler bem todo o tipo de textos adquire um valor seguro que nunca mais irá perder.” (M.E., 2007).


Referências:


Bastos, G. (1999). Literatura Infantil e Juvenil. Lisboa, Universidade Aberta.

Gordon, Ed. (2000). Teoria da Aprendizagem Musical. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Gordon, Ed. (2005). Teoria da Aprendizagem Musical para recém–nascidos e crianças em idade pré-escolar. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

J.L. (1990). Desenvolvimento interpessoal e moral. In B.P. Campos, Psicologia do Desenvolvimento e educação de jovens – Vol II, Universidade Aberta;

Ongaro & Silva (2006). Importância da música na aprendizagem. São Paulo, UNIMEO/CTESOP.

Lourenço, Orlando M. (2002). O desenvolvimento sócio moral. Universidade aberta;

Lourenço, Orlando M. (1997). Psicologia do desenvolvimento cognitivo – teoria, dados e implicações.

Ministério da Educação. (2007). Ler mais em Família – um projecto do Plano Nacional de Leitura. Lisboa.

www.planonacionaldeleitura.gov.pt/, consultado a 28/11/2009.




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